Boletim Informativo Nº 58
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Introdução
O MitraClip revolucionou o tratamento da insuficiência mitral (IM), oferecendo uma alternativa minimamente invasiva para pacientes selecionados. Este boletim destaca quais perfis de pacientes se beneficiam mais do procedimento com base em evidências clínicas recentes.
Pacientes que mais se beneficiam do MitraClip
O procedimento MitraClip é minimamente invasivo e realizado via acesso venoso femoral, reduzindo significativamente o tempo de recuperação em comparação com a cirurgia convencional. A punção transeptal é um dos passos críticos do procedimento, permitindo o acesso ao átrio esquerdo e a correta navegação do dispositivo até a valva mitral. A posição precisa da punção influencia diretamente o sucesso do implante e a redução da regurgitação mitral.
A maioria dos pacientes recebe alta em até 48 horas e pode retomar atividades leves dentro de poucos dias. No entanto, o sucesso do procedimento depende da anatomia valvar favorável e da experiência da equipe médica.
Principais desafios técnicos incluem a correta inserção do dispositivo sem causar estenose mitral significativa e a obtenção de uma fixação eficaz das cúspides, evitando regurgitação residual. O uso de ecocardiografia transesofágica intraoperatória é essencial para guiar o implante e otimizar os resultados.
1. Pacientes com Insuficiência Mitral Funcional Secundária a IC
a. O estudo COAPT demonstrou uma redução significativa em hospitalizações por insuficiência cardíaca e mortalidade em pacientes com IM funcional moderada a grave que permaneciam sintomáticos apesar do tratamento otimizado da IC.
b. Benefício evidente em pacientes com fração de ejeção entre 20-50%, volume Diastólico final do VE < 70 mm e tratamento medicamentoso otimizado.
2. Pacientes de Alto Risco Cirúrgico com Insuficiência Mitral Primária
a. Indicado para pacientes inoperáveis ou de alto risco cirúrgico devido a comorbidades, idade avançada ou fragilidade.
b. O registro TRAMI evidenciou melhora na qualidade de vida e sintomas em pacientes com IM degenerativa significativa.
3. Pacientes Idosos e Frágeis
a. A abordagem percutânea é menos invasiva e associada a menor tempo de recuperação, sendo ideal para pacientes idosos que não tolerariam uma cirurgia de substituição valvar.
4. Pacientes com IM Grave Sintomática sem Opções Cirúrgicas Viáveis
a. Para aqueles com contraindicação cirúrgica e sintomas refratários, o MitraClip reduz a regurgitação mitral e melhora a capacidade funcional.
Critérios de Exclusão
Para a adequada seleção dos pacientes, é essencial uma avaliação pré-procedimento detalhada. Exames fundamentais incluem ecocardiograma transesofágico para análise anatômica da valva mitral, avaliação da função ventricular e estimativa da severidade da insuficiência mitral. Testes complementares, como angiografia coronariana, podem ser necessários para excluir doença arterial coronariana significativa. Além disso, a logística hospitalar deve ser planejada para garantir uma equipe multidisciplinar treinada e infraestrutura adequada para o procedimento percutâneo.
- IM leve ou moderada sem impacto hemodinâmico significativo.
- Pacientes com calcificação significativa do anel mitral ou anatomia inadequada para o dispositivo.
- Insuficiência mitral primária em candidatos elegíveis para cirurgia com risco aceitável.
Imagens de ecocardiograma transesofágico de uma regurgitação mitral importante de etiologia primária e após implante de 2 clips evidenciando melhora importante da regurgitação (procedimento realizado pelo grupo HCI DA SANTA CASA DE RIBEIRÃO).
Tabela desenvolvida pelo estudo EVEREST que seleciona os critérios anatômicos de elegibilidade para o procedimento e correlaciona com a expertise dos serviços de hemodinâmica.
Conclusão
O MitraClip representa um avanço significativo no tratamento da insuficiência mitral, especialmente para pacientes com IM funcional e aqueles inoperáveis. O seguimento pós-procedimento deve incluir ecocardiograma seriado para monitoramento da eficácia do dispositivo, otimização do tratamento medicamentoso conforme necessário e avaliação clínica regular para identificar possíveis complicações, como regurgitação residual ou trombose. Pacientes devem ser orientados quanto à importância do acompanhamento contínuo e possíveis sinais de alerta que exijam reavaliação precoce. A seleção criteriosa dos pacientes é essencial para otimizar os resultados clínicos.