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MEIOS DE CONTRASTES IODADOS: ESPECIFICAÇÕES, FARMACOCINÉTICA E REAÇÕES ADVERSAS

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Angela Mari Rauth da Silva

 

Os contrastes são substâncias utilizadas em exames radiológicos com o objetivo de diferenciar e realçar estruturas anatômicas. De acordo com NAFIF (2013) citado por ANDRADE (2018) os exames de imagem podem obter diagnósticos mais precisos através da administração de contrastes iodados, esses com o objetivo de melhorar a visualização, auxiliando na investigação de várias doenças.

O contraste iodado não é o único meio de contraste existente e também não é o único com esta finalidade. Segundo LIMA (2018) cada contraste tem sua especificidade e indicações diferentes. Existem basicamente três substancias utilizadas para a fabricação dos meios de contrastes, estes utilizados nos exames de radiologia e diagnóstico, entre as substâncias, encontra-se: o bário, o iodo e o gadolínio.

O bário e o iodo são utilizados em exames radiológicos contrastados, o bário se destaca como melhor contraste para estudos de patologias no trato gastrointestinal (ARTUNK, 2010). O iodo é para a realização de angiografias, tomografias, arteriografias, flebografias, entre outros.

Os contrastes a base de gadolínio são utilizados para estudo de imagem por Ressonância Magnética.

Dentro deste contexto destacarei o meio de contraste iodado, suas especificações, farmacocinética e reações adversas.

 

CONTRASTE RADIOLÓGICO IODADO

Em 1918 o contraste iodado cuja a substância era iodeto de sódio, foi utilizado pela primeira vez em via endovenosa por E. H. WELD. Várias substâncias passaram por testes, até que em 1960 Wallindford em um de seus estudos descobriu três compostos que passaram a ser usados em conjunto: ácido metrizóico, triiodado e metal acetamido benzóico, resultando no contraste iodado padrão. (SANTOS, TOSCANO E SOUZA, 2007 citado por ARTUNK, 2010).

Os meios de contrastes iodados (MCI), possuem diversas propriedades físico-quimicas, podem ser classificadas como principais: a estrutura química, a ionicidade, a osmolalidade e a viscosidade.

A eficácia e à segurança dos meios de contraste estão diretamente relacionadas às propriedades físico-quimicas. (JUCHEM et al.,2004, WIDMARK, 2007; CARRARO-EDUARDO et al., 2008 citado por MARTIN et. Al., 2014).

O anel benzênico e átomos de iodo compõem a estrutura básica dos meios de contrastes iodados, a molécula pode conter um ou dois anéis benzênicos, formando monômeros ou dímeros. Além da estrutura base, agrupamentos complementares associados influenciam no nível de toxicidade. São considerados hidrossolúveis, ou seja, tem capacidade para se dissolver em água, com propriedade de excreção renal. (LIMA, 2018).

O contraste iodado se apresenta na forma Iônica e Não Iônica. Contraste iodado iônico além da estrutura base, o ácido é substituído por um cátion se dissociam em íons positivos e negativos, quando em solução. Contraste Iodado não-iônico o ácido é substituído por aminas, não se dissociam em dois ions, a molécula permanece intacta, diminuindo as chances de reações alérgicas. (ARTUNK 2010 E ACAUAN 2013, citado por ANDRADE,2018). A capacidade de dissociação está relacionada a propriedade de ionicidade.

As outras duas propriedades, osmolalidade e viscosidade, estão relacionadas à concentração do soluto, e independentemente de ser iônico ou não.

A osmolalidade e osmolaridade referem-se à concentração de particular de uma solução.  A osmolalidade relacionada ao número de miliosmoles por quilo de água, enquando a osmolaridade relaciona-se ao miliosmoles por litro de solução. (SANTOS et al., 2009 citado por MARTIN, 2014).

Se o número de partículas determina a osmolalidade, os contrastes iodados iônicos, possuem maior osmolalidade, devido à dissociação de íons e cátions, desta forma podemos relacionar osmolalidade com ionicidade.  (DE CAMPOS FONSECA PINTO, 2014 citado por CARMO, 2017).

Os meios de contrastes podem ser de alta osmolalidade, baixa osmolalidade e isosmolares. “Contraste iodado de alta osmolalidade: são contrastes com osmolalidade muito superior ao do plasma (de 6 a 8 vezes), compostos pelos contrastes iônicos. Estão associados a maior risco de efeitos adversos; Contraste iodado de baixa osmolalidade: são contrastes com menor osmolalidade que o grupo anterior, porém, são 2 a 3 vezes mais osmolares que o plasma. Na sua grande maioria, são contrastes não iônicos.” (PESSOA, 2014).

A viscosidade é definida pelo tamanho da molécula, concentração de iodo e temperatura, quanto maior a viscosidade maior será a resistência quanto ao fluxo, sendo necessário mais força para injetar o MCI, com menor velocidade no interior dos vasos. (LIMA, 2018; MARTN, 2014).

Quanto maior a temperatura, menor será a viscosidade, além disso, o aquecimento torna-o mais solúvel, sem perder a opacificação. “Observações clinicas sugerem que aquecer o contraste à temperatura corporal (em torno de 37ºC) o torna mais bem tolerado pelo paciente.” (JUCHEM et al., 2004; THOMSEN, 2014ª citado por MARTIN, 2014).

 

FARMACOCINÉTICA

O contraste iodado quando administrado via endovenosa, leva cerca de 2 a 5 minutos para que ocorra a difusão de 70% da dose injetada do plasma para o espaço intersticial, sendo que o equilíbrio completo entre o plasma e o espaço intersticial ocorre no intervalo de 2 horas. (THOMSEN; MORCOS, 2000; SANTOS et al., 2009, citado por MARTIN, 2014)

A meia vida do contraste é de aproximadamente 2 horas. A via renal sendo a principal via de eliminação, excreta 98% do contraste administrado, sendo o restante extra-renal eliminado pelo fígado, lágrimas, suor e saliva. Após 4 horas da injeção 75% da dose administrada já foi excretada e 98% da dose já foi eliminada após 24 horas, isso, no caso de função renal normal.  (LIMA, 2018).

No caso de função renal (taxa de filtração glomerular) diminuída, a excreção do contraste pode levar semanas.

 

REAÇÕES ADVERSAS

Os meios de contrastes apresentam eventos indesejáveis, mesmo após evoluções, reações adversas ainda ocorrem. Podendo classificar em leve, moderado e grave, dependendo dos sinais e sintomas apresentados.

As reações leves são limitadas e sem progressão, manifesta-se com náusea, vômito, tosse, cefaleia, prurido, rubor, calor, calafrios, urticária, palidez, congestão nasal, edemas na região dos olhos e na face, alteração do paladar e tontura. Nesses casos, manter o paciente em observação. Os sintomas tendem a desaparecer espontaneamente, sem necessidade de intervenção medicamentosa. Tratamento sintomático se necessário. (CREMONINI, 2010 citado por SILVA, 2019).

 Já as reações moderadas exigem tratamento medicamentoso e observação cuidadosa. Podendo apresentar: vômitos intensos, taquicardia ou bradicardia, hipertensão ou hipotensão, urticária extensa, aumento de edema facial, edema laríngeo, broncoespasmo e dispneia.  (JUCHEM, DALL’AGNOL, MAGALHÃES, 2004).

As reações graves são raras e requerem suporte terapêutico de emergência, e atendimento imediato por pessoas capacitadas. Os sintomas neste caso incluem: perda da consciência, hipotensão, parada cardiorrespiratória, edema laríngeo, cianose, convulsões e choques pirogênicos. (DAMAS, 2006 citado por ARTUNK, 2010).

As reações adversas também são classificadas quanto ao tempo decorrido após a administração do contraste, podendo ser imediata ou tardia. As reações imediatas podem ter início durante a injeção ou nos primeiros 20 minutos após a administração. (SILVA, 2000 citado por JUCHEM, 2004).

As reações tardias ocorrem após 30 minutos após a injeção do contraste, até 7 dias. A maioria das reações tardias são leves e autolimitantes. (MORCOS; THOMSEN, 2001, citado por MARTIN, 2014).

 

INCIDÊNCIA DE REAÇÕES ADVERSAS

JUCHEM, 2004 realizou um levantamento com resultados de estudos internacionais, a consulta confrontou-se com inúmeras variações. Mas foi possível evidenciar que o contraste iodado não iônico tem se mostrado mais seguro. De acordo com o estudo de COCHRAN “demonstrou uma taxa de reação adversa que variou entre 0,6 a 8% quando usado agente iônico e 0,2 a 0,7% quando utilizado o meio de contraste não iônico.

 

MINIMIZANDO A OCORRÊNCIA DE REAÇÕES ADVERSAS

Precauções devem ser tomadas sempre que for necessário a administração de contraste iodado, começando pela anamnese do paciente: história prévia de reação alérgica ao meio de contraste, hipersensibilidade ao iodo, histórias de múltiplas alergias, asma, doença renal, diabetes e doenças cardiovasculares (LEAL et al 2006, citado por ARTUNK, 2010).

Segundo JHUNCEM 2004, algumas medidas especificas podem impedir ou reduzir a ocorrência ou gravidade das reações adversas, são elas: a escolha do tipo de contraste, levantamento dos fatores de risco, averiguar as drogas utilizadas pelo paciente, medidas profiláticas em pacientes de risco, avaliação do estado geral do paciente, preparo pré-procedimento como hidratação e jejum, atenção ao aspecto emocional, intervalo entre exames contrastados, temperatura do contraste, dose administrada, observação do paciente durante e após o exame, registros e orientação do paciente, bem como o termo de consentimento informado.

É importante saber que as reações adversas podem ocorrer em pacientes que não apresentam fatores de risco, e naqueles que já foram expostos ao meio contraste anteriormente. (SILVA, 2003 citado por JUCHEM,2004)

 

CONSIDEREÇÕES FINAIS

Sabemos que os meios de contrastes são indispensáveis na prática médica atual, auxiliam na qualidade de imagem tanto em procedimentos diagnósticos como em intervenções terapêuticas.

As reações adversas não são inexistentes. Levando em consideração esse aspecto, o conhecimento teórico e prático das substancias administradas, levantamento de fatores de risco, medicações profiláticas, avaliação do paciente durante e após procedimentos, são de suma importância para minimizar a ocorrência de reações adversas.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, Marta Pereira; LIRA, Nadja Maria Rodrigues. Reações alérgicas aos meios de contrastes em radiologia e a conduta do profissional de enfermagem. 2018. Disponivel em :www. https://openrit.grupotiradentes.com. Acesso em: 17 de novembro de 2020.

ARTUNK, Mayara Danusa. A utilização dos meios de contraste na radiologia. 2010

CARMO, A.L.F.; SILVA, F.M.D.; JUNIOR, P.R.B.; ROCHA, G. Contraste Iodado: Risco e Reações. Conexão Eletrônica, Três Lagoas, MS. 2017.

JUCHEM, Beatriz Cavalcanti; DALL’AGNOL, Clarice Maria; MAGALHÃES, Ana Maria Muller. Contraste Iodado em Tomografia Computadorizada: prevenção de reações adversas. Ver. Bras. Enferm, Brasília 2004.

LIMA, Erik; SANCHEZ, Bergman; MARTINS, Vinicius. Principios farmacológicos dos meios de contraste. Faculdade de ciências médicas da Santa Casa de São Paulo – São Paulo :2018.

MARTIN, Claudia Matsunaga et.al. Meios de Contraste Iodado: propriedades físico-quimicas e reações adversas. Rev. Acad. Cienc. Agrar. Ambient. Curitiba , 2014.

PESSOA, Ana Cristina Santos de Paula. Manual Tomografia Computadorizada. Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar. 2014.

SILVA, Cinthya dos Santos. Enfermagem no Centro de Diagnóstico de Exames Radiológicos Iodados. Uniceplac – Brasilia, 2019.

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